O casal

Caminhando pelas ruas da cidade vejo um casal na sacada de um apartamento.
Estavam abraçados, olhando para o horizonte com um sorriso no rosto.

Fisicamente, não havia "nada concreto", aos olhos do observador era apenas o vazio. Há quem diga que eles estavam olhando para o nada, mas o que seria este “nada”? Para eles poderia ser “tudo”.
A alegria não estava no meio, mas sim na essência do momento, daquele fato que só eles sabiam, do sigilo total, dos motivos exclusivos, que formavam algo como uma comunicação secreta, particular e indecifrável.

Fiquei um tempo parada observando os dois, divagando em pensamentos mirabolantes e tentando descobrir (em tentativas inúteis) o porquê daquela felicidade.
Estaria a moça grávida? Teria algum deles conseguido arranjar um emprego?
Teriam conseguido um financiamento no banco para comprar uma casa própria? Será que receberiam a visita de algum parente distante?

Não há dinheiro no mundo que pague a sensação maravilhosa desses momentos, a pureza de mil palavras; ditas apenas com um olhar.
Havia um ar de satisfação, paz, tranqulidade naquela manhã.


Segui caminhando e lembrei que não há como explicar, racionalizar e ou quantificar a felicidade. Ela vem sem ter uma razão específica, sem ter um dia especial, sem hora ou lugar. Independente de qualquer compromisso, independente da correria.
Ela simplesmente acontece.